terça-feira, 6 de março de 2018

São Gabriel de Azara aos dias atuais (Final)

Estâncias históricas. Por exemplo: Estâncias no Distrito de Vacacai. Dentre as oito estâncias lá existentes, a Santa Marta sobressai por ter sido a sede da primeira charqueada do município (Charqueada do Vacacaí), em 1885, ano que coincide com a chegada da estrada de ferro, e o destaque é um túmulo de pedras de cantaria que se alcança por uma escadaria.

Em relação as charqueadas, conforme São Gabriel, o município apresentou a partir da Estância Santa Marta mais cinco charqueadas, a saber Santa Brigída, de Azevedo Sodré, Boa Ventura Ferreira da Silva e Cia e Tiarajú que entraram em decadência com o advento dos frigoríficos, a partir de 1910.

A Estância Campestre apresenta a sede em arquitetura alemã com telhados enfeitados com guirlandas (lambrequins) afastando-se do tradicional estilo português colonial e a ênfase do empreendimento é que possuía cédulas próprias equivalentes a um câmbio paralelo.

A época também se destacava pela presença de um banheiro para animais de nado circular. Foi toda reformada e manteve sua originalidade.

A Estância do Céu, ocupada durante a Revolução de 23, no ano de 2000 foi o primeiro local de invasões no município pelos movimentos sociais e a partir de 2005 passou a constituir um assentamento do Incra. É conhecida como o local da “Conquista do Caiboaté”.

Estâncias no Subdistrito de Batovi. Neste distrito encontram-se as estâncias mais antigas do município, como a Estância do Batovi construída em 1687, local onde já existia uma povoação jesuítica pelo Visconde de São Gabriel e notabilizou-se pela criação de gado.

O Tratado de Santo Ildefonso (1777) determinou o cerro onde se encontra a propriedade como linha de limite. Ela ostenta uma capela que conforme a tradição esteve presente nas propriedades mais abastadas, eventualmente isoladas do corpo da casa como é o caso da Estância do Batovi.

Algumas foram palcos dos combates da Revolução Farroupilha, a exemplo da Estância do Meio que pertencia ao Barão de São Gabriel e já existia antes de São Gabriel ser elevada a vila, pois foi construída em 1832.

A Estância Boa Vista de propriedade do Barão de São Gabriel e a Estância Santa Clara que pertenceu ao maior laçador e peleador do Rio Grande do Sul, Manuel Bento Pereira (Maneco Pereira), o homem que laçava com o pé.

Somado ao Distrito de Tiarajú este é o Subdistrito que ostenta o segundo lugar em termos de número de estâncias no município com ênfase as antigas, históricas e lendárias, como a Estância das Paredes povoada de lendas e superstições a respeito de dinheiro enterrado,
assombrações, entre outras.

ESTÂNCIAS NO SUSPIRO

Neste Distrito outras estâncias merecem destaque a exemplo da Estância do Suspiro que hoje
apresenta somente os alicerces sendo sua área utilizada com povoamentos de eucaliptos.

Destaca-se que os proprietários deram origem as famílias mais tradicionais de São Gabriel. A Estância da Vigia situa-se em um dos pontos mais altos ao longo do Rio Vacacaí e servia de observação durante a Revolução Farroupilha.

Elementos como o moinho para trigo e milho movido a água e a existência de lençóis com água alcalina localizados pelo Ministério de Minas e Energia caracterizam a Estância do Sobrado, enquanto as extensões de cercas de pedra são encontradas nas Estâncias do Cerro
e de Jaguari.

Esta última propriedade, mesmo reduzida a sete quadras de sesmarias se constitui na ultima das grandes propriedades da região.

Estâncias no Subdistrito de Cerro do Ouro. São três propriedades que possuem suas particularidades como a Estância ou “Castelo” do
Panorama que pertenceu ao general Ptolomeu Assis Brasil, grande pesquisador e geógrafo.

Tida como um local assombrado a mesma encontra-se abandonada, pois reza a lenda que a praga de uma escrava fez com que nenhum proprietário se fixasse no local.

A Estância Cerro do Ouro recebeu esta denominação devido a presença de pepitas de ouro e as formações rochosas presentes no local (Cerro da Cuenca).

Um fato que também a notabiliza foi a instalação de água encanada e energia elétrica através de uma cata-vento importado dos Estados Unidos.

A Estância do Tarumã era uma das maiores da região, fica na localidade de Von Bock e hoje existem apenas ruínas de uma propriedade que passou por diversos donos e que apresenta uma paisagem com enormes figueiras e carrega uma serie de lendas.

ESTÂNCIAS EM CATUÇABA

A Estância do Boqueirão foi a primeira a fazer parceria com 26 famílias de empregados que
tinham direito a plantações de subsistência.

A Estância São Expedito deu pouso ao governador do estado, Borges de Medeiros e a Posto Queimado sempre foi ponto de encontro de políticos, mantendo sua arquitetura original.

A Estância Nova Era distingue-se das demais construções por apresentar estilo inglês, em plena paisagem do Pampa. Contando com paredes de 0,30m de largura feitas de torrões. A Estância Canto do Galo mantem suas características desde 1857.

Estâncias no Distrito de Tiarajú. A Estância da Caieira sediou a capital da Republica Riograndense (1841), bem como recepcionou Dom Pedro II e organizou uma festa campeira sendo considerada a primeira festa tradicional do Rio Grande do Sul, assim como a do Pau Fincado recepcionou o monarca.

Hoje, estas propriedades não existem mais sendo considerado mais de 200 anos de sua fundação dando lugar as plantações de eucaliptos.

O Barão de Candiota (Luiz Gonçalves das Chagas) mantinha também as propriedades Santa Lorena, Espinilho e a Mascarenhas. A Estância Santa Fé apresenta arquitetura com linhas de influência germânica. Tinha até quadra de tênis e pista de aviões quando ocorreu um acidente (1960).

Por lá pode ser vista as ruínas de uma olaria que abastecia a cidade, sendo seus antigos proprietários considerados os pioneiros na moto mecanização da cultura do arroz.

A Estância Inhatium ostenta arquitetura colonial portuguesa com influência mineira e também recebeu a visita de Dom Pedro II, quando condecorou os proprietários (senhor e senhora Borges Fortes) com os títulos de Comendador da Ordem Brasileira de Cristo e da Rosa e Dama do Paço, respectivamente.

A Estância Estrela pertenceu a Tunuca Silveira, intendente de São
Gabriel. Na Estância São Filipinho aconteceu o Combate de mesmo nome em 1840 e hoje não existe mais.

A Estância Velha ostenta as paredes externas de pedra e as internas de pau-a-pique com reboco. Pertencente a Baronesa de Batovi (enterrada no cemitério da estância) é considerada uma das mais lendárias do município, pois lá foi encontrado um tacho com moedas de ouro entre duas figueiras.

EM SANTA MARGARIDA DO SUL

O site oficial do atual município de Santa Margarida do Sul enfatiza as duas estâncias históricas como a do Sobrado, também conhecida como o "Sobrado da Cambaí", a Estância do Capão (históricas) e a Estância da Figueira (antiga).

Consta que o monarca Dom Pedro II foi recebido em duas ocasiões na Estância do Sobrado e da Figueira (considerada uma das primeiras estâncias gaúchas) concedendo ao seu proprietário, por serviços prestados na Guerra do Paraguai, o título de Barão de Cambaí.

Na mesma oportunidade na Estância Vista Clara escravos foram apresentados à corte para participar do Exército Imperial.

Um dos pontos mais conhecidos é a Estância do Capão construída em 1866, pelo Barão do Cambaí. No local encontra-se a Tapera da Genoveva que são ruínas da casa onde nasceu Plácido de Castro (Libertador do Acre).

No local existe um monumento que é mais visitado pelo povo acreano do que pela população local.

PERSONALIDADES DA TERRA

Terra de marechais e intelectuais foi cognominada a “Atenas Riograndense”. Dentre os nomes que brilham na história gabrielense e nas páginas da história do Brasil, figuram entre outros, os de Menna Barreto, João Nepomuceno de Medeiros Mallet, Hermes da Fonseca, Barão do Batovi, cuja esposa falecida em São Gabriel a 9 de dezembro de 1901, ninguém sabe onde foi enterrada.

Diz-nos a respeito, Artur Pereira, em artigo publicado no “Jornal do Dia”, de 21 de setembro de 1962, que a viúva do trucidado “Barão do Batovi”, vítima da ferocidade partidária do florianismo, a 25 de abril de 1894, em Santa Catarina, recolhida a sua estância em São Gabriel, chamara, um dia, seu capataz, homem da máxima confiança e lhe dissera:

“Quando eu morrer, o que não deve tardar, farás o meu enterro sem que ninguém mais o acompanhe. E vais jurar-me que nunca revelarás o lugar da minha sepultura”. O capataz jurou e cumpriu seu juramento.

Até hoje ninguém soube em que ponto da estância, em que encosta de cerro, em que várzea, em que orla de restinga fora depositado o corpo da baronesa, pois que nenhum vestígio ficou assinalando o lugar sagrado. Foi este o protesto da grande e nobre dama a traição florianista.

OUTROS GRANDES GABRIELENSES

Barão de Candiota, João Baptista Mascarenhas de Moraes, Joaquim Francisco de Assis Brasil, Fernando Abbott e seu irmão, João Abbott, os Borges Fortes, o médico doutor João Pereira da Silva Borges Fortes e seus filhos generais João Borges Fortes, historiador, e Jônatas Borges Fortes, além de outros.

Rêgo Monteiro Jônatas da Costa, historiador e militar, Alcides Maya, Jorge Jobim, pai do compositor Tom Jobim, Plácido de Castro, o conquistador do Acre e muitos outros.

São Gabriel, criada a capela, como vimos, em 1815, foi elevada à categoria de Paróquia pela Lei Nº 16, de 20 de dezembro de 1837. A Vila, sede de município, pela Lei Nº 8, de 4 de abril de 1846. E a cidade, a grande honraria que o Império dava as vilas que se destacavam, pela Lei Provincial Nº 443, de 15 de dezembro de 1859.

Durante a Guerra Cisplatina, São Gabriel foi quartel-general das tropas brasileiras. Invadida e ocupada pelas forças uruguaio-argentinas, foi posteriormente retomada. Os inimigos, ao abandoná-la, saquearam e incendiaram a vila. Voltando a dominá-la abandonaram-na definitivamente, em 1º de março de 1827.

São Gabriel foi centro importante durante a Revolução Farroupilha (1835-1845). Chegou a ser capital da República Riograndense e base de operações do exército legalista, sob o comando do general Luís Alves de Lima e Silva, Barão de Caxias.

Em 13 de janeiro de 1846, a então povoação de São Gabriel recebeu a primeira visita do Imperador Dom Pedro II. Na oportunidade, assistiu Missa na Igreja do Galo. No dia 30 de agosto de 1865, passou novamente pela cidade, a caminho de Uruguaiana, quando foi assistir a rendição dos paraguaios.

Por ocasião da guerra de 1851/1852, provocada pelos ditadores do Uruguai e da Argentina, o Duque de Caxias fez do município ponto de concentração dos diversos corpos da Guarda Nacional.

PIONEIRA NA LIBERTAÇÃO DE ESCRAVOS

Palco de idéias liberais, São Gabriel extinguiu a escravidão desde 1884. Com a Lei Provincial n.º 8 de 4 de abril de 1846, São Gabriel foi elevada a categoria de município, com a instalação da Câmara de Vereadores, cujo presidente exercia o Poder Executivo.

A instalação deu-se solenemente a 19 de setembro de 1846, sendo a sessão dirigida pelo presidente da Câmara Municipal de Caçapava, Lúcio Jaime de Figueiredo, que deu posse e juramento aos vereadores nomeados para comporem a Câmara Municipal da Vila de São Gabriel.

Os primeiros vereadores foram: João Raimundo da Silva, doutor João Pereira da Silva Borges, José Gonçalves Lopes Ferrugem, Antônio de Faria Corrêa, Joaquim Monteiro Lobato, Joaquim José da Silva Júnior e Manoel Pires da Silveira Casado.

Em 15 de dezembro (antigo feriado municipal) de 1859, foi elevada a condição de cidade, durante a presidência do conselheiro Joaquim Antão Fernandes Leão.

BATALHAS E COMBATES

O território do atual município de São Gabriel foi marcado ao longo da história por diversos combates e batalhas que estão na história, não só do município, mas também do Brasil.

Os principais conflitos verificados em solo gabrielense foram a Batalha do Caiboaté, em fevereiro de 1756, entre índios guaranis dos Sete Povos contra as forças luso-espanholas e o Combate do Cerro do Ouro.

Ao que se sabe tombou em combate, nas cercanias da Sanga da Bica, no que hoje é o centro da cidade de São Gabriel, Sepé Tiarajú, grande líder indígena e, considerado por muitos, nos dias de hoje, santo popular. Junto dele morreram cerca de 1.500 índios.

No local onde tombou este grande líder, dentro da cidade, foi erguido um monumento, uma Cruz de Lorena de madeira, a cruz dupla, que sempre foi o símbolo dos padres Jesuítas das missões, marcando o local onde morreu o grande herói.

Com a morte de Sepé Tiarajú, aproximou-se o fim dos conflitos entre os indígenas dos Sete Povos das Missões e as forças de Espanha e Portugal, confronto denominado “Guerra Guaranítica”.

O Combate do Cerro do Ouro ocorreu às margens do Arroio do Salso, no Distrito de Cerro do Ouro, em agosto de 1893, durante a Revolução liderada por Gaspar Silveira Martins e Gumercindo Saraiva contra o governo de Júlio de Castilhos.

Constituiu uma das batalhas mais sangrentas do conflito, com mais de 200 mortos. Perto do local, numa coxilha próxima, existe um Monumento em homenagem aos que ali morreram.

UMA HISTÓRIA HEROICA E GLORIOSA

A história de São Gabriel não é apenas do passado. Em 1809 pertencia a Rio Pardo com o nome de distrito do Vacacaí. Também modernamente, da Proclamação da República para cá, sua história é heroica e gloriosa. Isto, sem contarmos os acontecimentos do período Farroupilha, quando chegou a ser capital provisória da República Rio-Grandense, por alguns dias.

De 1893/1895, na época da Revolução Federalista guarda a lembrança no célebre “Apertado” do Cerro do Ouro, em que se travou famoso e cruento combate. Isto, sem referir outros entrechoques no município.

Igualmente as revoluções de 1923, 1924, 1926, 1930 e 1932. Seriam páginas e páginas que deveríamos escrever para dar de tudo pequena nota.

Também não é possível falar de São Gabriel sem citar Aristóteles Vaz de Carvalho e Silva, João Pedro Nunes, criador do melhor Museu Histórico que existiu no interior do Estado e o historiador Osório Santana Figueiredo.

Foi elevada à condição de cidade e sede do município com a denominação de São Gabriel, pela Lei Provincial n.º 443, de 15-12-1859. Mais tarde, em 1892, foram criados os distritos de Campo Seco, Pau Fincado, Salso e Santa Bárbara e anexados ao município de São Gabriel.

Em 1917 foi criado o distrito de Suspiro ou Bom Retiro e anexado ao município de São Gabriel. O distrito de Azevedo Sodré foi criado em 1929. O de Santa Margarida em 1932.

Em 1938, os distritos de Campo Seco, Mena Barreto e Salso aparecem como simples zonas do distrito sede do município de São Gabriel. O distrito de Bela Vista aparece com a denominação de Guabijú.

Ainda em 1938 foi criado o distrito de Vacacaí e extintos os distritos de Pau Fincado e Santa Margarida, sendo seus territórios anexados ao distrito sede do município de São Gabriel, como simples zona.

E, ainda foi alterada a denominação do distrito de Guabijú para Tiaraju.

Pelo Decreto Estadual n.º 7.842, de 30-06-1939, o distrito de Santa Margarida foi extinto, sendo seu território anexado ao distrito sede do município de São Gabriel, como simples zona.

Em 1944 foi desmembrado do município de São Gabriel o distrito de Cacequí, sendo elevado à categoria de município.

Em divisão territorial datada de 1960, o município ficou constituído de 5 distritos: São Gabriel, Azevedo Sodré, Suspiro Tiaraju e Vacacaí, o que permanece até hoje.

Em 1940, São Gabriel, então com 35.849 habitantes, tinha oito associações culturais e artísticas, oito entidades esportivas, dois teatros e dois clubes sociais. Somente naquele ano foram realizados 53 torneios de tênis e polo no município e na região da Campanha Gaúcha, segundo Fortunato Pimentel, em seu livro “Aspectos Gerais de São Gabriel”. (Texto e pesquisa: Nilo Dias - Publicado no jornal "O Fato", de São Gabriel-RS, edição de 28 de fevereiro de 2008))

Estância antiga em Azevedo Sodré. 

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