segunda-feira, 12 de março de 2018

A Negritude em São Gabriel: uma História não contada

Desde a existência das primeiras fazendas na região, no século 17, os negros estão presentes na história de São Gabriel. Entretanto, a historiografia oficial, por vergonha, deixou de narrar com maior precisão os registros de um período escravista em que a servidão dos negros era particularmente cruel.

“O tratamento para com os escravos era absolutamente desumano, nas fazendas e nas charqueadas. Era comum os negros não resistirem às chibatadas e morrerem nos troncos, sendo enterrados sem cruz, nos recantos das fazendas, e era comum o estupro praticado por patrões”, declara o pesquisador Beraldo Figueiredo, filho do historiador Osório Santana Figueiredo. “Muitas senzalas, muitos troncos em fazendas, meu pai contava que o que faziam é de arrepiar”, diz.

O Museu da Igreja do Galo ainda conserva instrumentos de tortura e de aprisionamento de escravos. Apesar desse cenário bárbaro, havia em São Gabriel uma elite progressista que, reunida em torno da Maçonaria Rocha Negra n.º 1, reuniu 900 cartas de alforria, tornando São Gabriel território livre de escravos já em 1884, quatro anos antes da Lei Áurea.

Mesmo depois do fim da escravidão, a segregação social permaneceu. Em 20 de setembro de 1953, uma reportagem do Jornal “O Imparcial” noticiava o surgimento da Sociedade Esportiva e Recreativa XV de Novembro, um clube social formado por negros, já que sua entrada não era bem vista em clubes como o Caixeiral e Comercial. A reportagem fala do clube como “a sociedade da família morena gabrielense”.

Segundo o professor José Fernando dos Santos, curador do Museu da Igreja do Galo, a história local teve negros ilustres, como o primeiro vereador negro da cidade, Inocêncio Teixeira, na década de 60, eleito pela ARENA; o histórico militante trabalhista Pedro Bahia; Orácio Gezat, fundador da Sociedade XV de Novembro; Otalino Rodrigues, primeiro pastor evangélico negro da cidade, fundador da Igreja do Evangelho Quadrangular no município; e a comovente história do Irmão Marista Maria Valeriano, criado entre os irmãos maristas do Ginásio São Gabriel, e que aos 17 anos já dava aulas de francês na escola; ingressou no Juvenato marista naquela época, mas foi descartado por causa de sua cor.

Não desistiu de sua fé, e fundou escolas em São Paulo, Uruguaiana e Bagé. Somente conseguiria tornar-se irmão marista com 62 anos de idade, pela intervenção direta do Monsenhor Henrique Rech. Faleceu em 1968, como Porteiro do Retiro dos Maristas, o cargo mais honroso da congregação. (Fonte: Prefeitura Municipal de São Gabriel)


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