sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Um exemplo de honra e dignidade

O doutor Eglon Meyer Corrêa era filho do casal Fernando Barbosa Corrêa e Gilda Jouclá Meyer. Irmão de Ayrton Meyer Corrêa e Alda Maria Meyer Corrêa, Eglon nasceu em São Gabriel e casou com Loiva Maria de Macedo Souto, filha de Romeu Saldanha Souto e Loiva Goulart de Macedo.

O doutor Eglon Meyer Corrêa foi alguém muito especial na minha vida. Tive a oportunidade de trabalhar como seu assessor de imprensa, no tempo em que ele foi prefeito de São Gabriel.

O chefe de família, o médico e o homem já sabia das qualidades. Fiquei conhecendo o político. Coisa rara nos tempos modernos. Pautou sua vida pública pela honra e a dignidade.

Partiu desta vida com as mãos limpas, exemplo para as gerações futuras, que hoje convivem com um país absurdamente corrupto.

Este mundo é pródigo em fazer coisas incríveis. O doutor Eglon foi em minha vida e de meus familiares, quase um segundo pai. Em momentos de dificuldades que enfrentamos ele esteve sempre do lado, nunca negando o seu apoio.

Mas não fui seu eleitor. Quando na eleição em que concorreu como vice de Balbo Teixeira, ainda não morávamos em São Gabriel. Quando concorreu e ganhou para prefeito nosso apoio foi para o doutor Erasmo Chiappetta.

Quando foi vice de Rossano, eu já estava em Brasília. Mas nada disso impediu que eu fosse seu assessor de imprensa, quando ele era prefeito de São Gabriel.     

A última vez que vi o doutor Eglon foi no segundo turno das eleições presidenciais de 2002. Eu o encontrei na esquina do Clube Caixeiral e logo a roda foi aumentando com a chegada do hoje saudoso amigo doutor Nolan Scipioni, Bereci Macedo, Jaiminho Marques Carneiro, de saudosa memória e outros que não recordo.

Em maio de 2003 estive outra vez em São Gabriel. Num domingo pela manhã fui na sua casa e lamentei não ter encontrado ninguém.

Depois recebi com imensa tristeza a notícia de sua partida. Quis o destino que fosse num dia 7 de Setembro, data em que os brasileiros reverenciam sua Pátria. Parece até que foi a Pátria que quis reverenciar um ilustre filho que deixa como legado a nobreza de seus atos.

UMA GRANDE MULHER

O ditado que ao lado de um grande homem sempre existe uma grande mulher foi plenamente confirmado na vida do doutor Eglon. Dona Loivinha foi a esposa amada, a companheira de todas as horas, a mãe afável. 

O doutor Eglon pautou sua administração como prefeito de São Gabriel por importantes iniciativas. A cultura mereceu dele atenção especial.

Trouxe para a cidade o Museu Gaúcho da Força Expedicionária Brasileira (FEB), que guarda um importante acervo histórico a respeito do segundo conflito mundial, que foi doado pela Associação dos Veteranos da FEB ao povo de São Gabriel.

O Museu Gaúcho da FEB foi criado em Porto Alegre no dia 12 de janeiro de 1978 pelo tenente Fabiano Antônio Reginatto, veterano da 2ª Guerra Mundial, num prédio cedido pelo Exército, na avenida João Pessoa.

Em 27 de junho de 1981, após a morte do tenente Reginato, passou à responsabilidade da Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira de Porto Alegre (ANVFEB - PA).

Devido a vários fatores, o museu não mais ficaria em Porto Alegre e, através da aprovação pela Associação de Veteranos da FEB, na época presidida pelo tenente José Conrado de Souza, o museu foi doado a São Gabriel, especialmente por ser berço do comandante da FEB Marechal Mascarenhas de Moraes.

O Museu Gaúcho da Força Expedicionária Brasileira é constituído de um acervo temático e possui um farto material de fotos, documentos, armamento entre outras relíquias que fizeram parte do cenário da Segunda Guerra Mundial.

Não é à toa que o Museu Gaúcho da FEB, Marechal Mascarenhas de Moraes foi reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura (UNESCO) por ter o maior acervo da América Latina sobre a Força Expedicionária Brasileira (FEB).

A instalação do museu em São Gabriel ocorreu em 20 de novembro de 1992, estando até hoje instalado no prédio da antiga Estação da Viação Férrea, cedido pela Rede Ferroviária Federal.

Em julho de 2003, o acervo foi retirado para reformas no prédio e mantido nas unidades militares do município, especialmente por questões de segurança. O acervo retornou em março de 2004, quando o Museu foi reaberto ao público.

SANGA DA BICA

Em 27 de março de 1991 o doutor Eglon sancionou o Projeto de Lei de autoria do então vereador Caio Rocha, tornando a Sanga da Bica patrimônio Ecológico do Município.

Isso, depois que no final dos anos 80 a sanga recebeu atenção especial das professoras e biólogas Lurdes Zanchetta da Rosa e Jaci Rosa, que realizaram vários estudos em relação à vegetação nativa do local.

E foi graças a esse trabalho que Caio Rocha, apresentou projeto ao prefeito, ampliando a importância da Sanga da Bica, que já era relevante, pois próximo a ela tombou o índio-herói Sepé Tiaraju.

A Sanga da Bica está localizada a 300 metros da praça Fernando Abbott, em propriedade da Família Assis Brasil em área geográfica de 56.800m2 de mata nativa particularmente preservada.

Dispõe de grande diversidade de plantas exóticas e nativas e principalmente ervas medicinais como “Açoita Cavalo”, “Pata de Vaca”, “Chá de Bugre” e “Araticum”.

O meio-ambiente também mereceu grande atenção do prefeito Eglon, que criou um aterro sanitário próprio, localizado nas proximidades do Trevo de acesso ao Bairro Universitário, em direção a Rosário do Sul pela BR 290, a três quilômetros da sede do município.

A ideia do prefeito era reduzir os impactos à saúde humana, como a contaminação das águas subterrâneas; contaminação dos mananciais superficiais; proliferação de micro e macro vetores; geração de maus odores; espalhamento de resíduos urbanos pela ação dos ventos e aspecto visual desfavorável.

O projeto previa a geração de 45 empregos. Lembro que na época chegaram a trabalhar 19 homens e quatro mulheres, totalizando 23 cooperativados, gerando renda com qualidade de vida a população gabrielense.

UM 7 DE SETEMBRO TRISTE

No transcurso do mandato como vice-prefeito, o médico e líder político Eglon Meyer Corrêa morreu no Dia da Independência do Brasil, durante sua recuperação em Pelotas. A notícia pegou a comunidade de surpresa, que se preparava para o desfile da Pátria naquele dia.

Eglon enfrentava um tratamento para complicações cardíacas e faleceu após cirurgia para a troca da válvula mitral do coração. A notícia de sua morte, ocorrida pelas 5 horas da manhã de 7 de setembro de 2004, foi dada pelo radialista José Boaventura Félix, em seu programa "Alvorada Pampeana", e a comunidade começou a externar a dor pela passagem do médico.

O corpo do médico, que foi prefeito entre 1988 e 1992, chegou a São Gabriel na tarde daquele dia. O dia 7 de setembro a partir de então, nunca mais foi igual. Mesmo com a homenagem ao médico e colega Miguel Vinhas Varella em andamento, lembranças a Eglon foram constantes no desfile.

A despedida aconteceu às 20 horas, em um cortejo que percorreu da Prefeitura até a Rua Tristão Pinto, em um silêncio impressionante que só tinha sido visto semelhante na caminhada em homenagem às vítimas da Kiss, em janeiro.

A campanha política teve uma pausa por três dias, dado o luto por Eglon Corrêa. Ele foi homenageado na Semana da Pátria de 2009. E nesta década de saudade, não se homenageou o médico humanitário e pessoa que foi Eglon Corrêa.

Um projeto de indicação quer homenagear um grande nome da política gabrielense que ainda é lembrado por seus feitos e humanismo.

Em proposição do vereador Caio Rocha (PP), ele solicita que se anexe ao projeto de revitalização da Praça Dr. Fernando Abbott um outro projeto para que se construa um busto em homenagem ao ex-prefeito Eglon Meyer Corrêa, falecido em 2004.

Caio salienta que este pedido é pelo legado deixado por Eglon para o povo de São Gabriel, onde além de ser um ilibado líder político, foi um exemplar médico para a população.

Eglon foi vice-prefeito de São Gabriel de 1982 à 1987, Prefeito de 1988 a 1992 e retornou à política em 1996, conduzindo o PP na vitória que conduziu Rossano Gonçalves à Prefeitura e logo mais tarde, em 2000, quando foi vice dele.

Só deixou o mandato em razão de sua despedida prematura por problemas de saúde, em 7 de setembro de 2004. "O município pode inclusive, viabilizar uma parceria público-privada para esta obra. Pela sua história, ele merece, assim como foi com José Sampaio Marques Luz e Celestino Lopes Cavalheiro, ficar eternizado para a posteridade no coração da cidade", finalizou.

O médico humanitário e político destacado foi imortalizado com o seu nome dado ao Parque Doutor Eglon Meyer Corrêa, localizado no Bairro Jardim Europa

UM VERDADEIRO GENTLEMAN

A maneira que o doutor Eglon tratava as pessoas foi bem exposta pelo amigo professor Beraldo Lopes Figueiredo: “Nunca vou esquecer o dia em que precisei de um médico e fui atendido na hora e não tinha dinheiro para pagar no momento. Depois tentei pagá-lo em vão ele só sorriu e disse: "Se precisar de novo tu vens aqui e paga as duas ..."

Em outra ocasião o mesmo Beraldo escreveu: “Doutor Eglon, pediatra da minha filha e amigo pessoal. Poderiam escrever um livro sobre seus feitos, como sair de festas e eventos para atender seus pacientes, como levantar em noites chuvosas para ir na casa das pessoas, só o que posso fazer agora é desenhá-lo”.

E foi além: “Desenhar o Eglon me fez viajar nas histórias da minha vida, o médico o amigo aquele que sorria fácil, que era positivo, que atendia as pessoas com um carinho especial que vinha até elas, que segurava no meu braço, olhava no olho com aquela mania maravilhosa de tranquilizar pais aflitos, que saia de festas, da sua cama quente, que atendia o telefone de noite, que ia ao encontro do paciente, seus meninos e meninas. Desenhar o médico Eglon para mim foi um prazer inesquecível. Por isso eu coloco ele na moldura”. (Pesquisa: Nilo Dias)


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