sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Uma admirável amizade de muitos anos

O conhecido empresário Luiz Eduardo Assis Brasil, o popular “Secco” é um amigo de muitos anos, que prezo muito. Não só pela colaboração espontânea que sempre prestou ao futebol profissional da cidade, ao tempo em que eu presidia a S.E.R. São Gabriel, e também quando um grupo de desportistas levantou o Grêmio Esportivo Gabrielense. E por muitos outros motivos, destacando o fato de ambos torcermos pelo glorioso Esporte Clube Internacional.

Eu sempre tive uma grande admiração pela Família Assis Brasil. Sabidamente gente de recursos, mas que sempre tratou a todos com imenso respeito e igualdade, não dando a mínima importância para eventual riqueza material. Sempre priorizaram a riqueza espiritual, os valores humanos e por isso angariaram a admiração de toda a população gabrielense.

Eu sei bem disso, pois quando morava em São Gabriel e distribuía o jornal “Tribuna do Povo”, semanalmente ia até a “Chácara Juca Tigre”, pois tinha por lá assinantes variados. E muitas vezes fui convidado para saborear um delicioso café da manhã na casa da dona Lina.

Era uma pessoa extremamente bondosa, que deixou saudade naqueles que a conheceram. O mesmo se pode dizer da dona Vera, amiga que sempre me autorizava a pescar junto com o tenente Dutra e o Flávio Lucca, em sua propriedade rural.

E o que dizer do Carlos Dácio? Uma das pessoas mais admiráveis que conheci. Amigo leal e também torcedor do Internacional. A última vez que estive com ele foi quando do lançamento de meu livro “100 anos de futebol em São Gabriel”.

Na ocasião, ele adquiriu dois exemplares, um para ele e outro para enviar ao seu amigo de muitos anos, o grande craque colorado do passado e treinador de sucesso, Cláudio Duarte. Antes, eu participara de um majestoso jantar na residência do “Secco”, quando lá estava o Carlos Dácio, que me brindou com uma cachaça com butiá, que mais parecia um néctar dos Deuses.

E lembro que lá também estava outro grande amigo, que também já nos deixou, o querido Luiz Porciúncula, o “Popô”, que foi o dono da noite ao contar histórias verídicas e engraçadas. Pena que pessoas tão amigas tivessem que partir tão cedo para o outro plano espiritual. Mas fica como consolo a lembrança dos bons momentos vividos juntos. Carlos Dácio e “Popô” certamente continuam bem vivos nas recordações de seus amigos, que foram muitos.

Pois bem, depois dessa introdução, digo que a matéria a seguir, falando sobre Cláudio Duarte foi feita para contar alguma coisa sobre a amizade de muitos anos que une os Assis Brasil ao ex-craque do Internacional, de Porto Alegre. Essa é uma homenagem que faço ao “Secco”, amigo que admiro muito e também em memória de Carlos Dácio.

Devo esclarecer que a ideia não foi minha, sim da Ana Rita. Quem pensa que ela não “mete o bedelho” no jornal está muito enganado. Ela sabe tudo, dá palpites a torto e a direito, está sempre atenta e busca a perfeição a qualquer custo. Claro que isso é difícil de conquistar, mas ela consegue o milagre da aproximação.

Eu não tenho a honra de desfrutar da amizade com o Cláudio, mas me confesso um admirador do grande atleta que foi e sei também, do cidadão probo que é. Embora Cláudio não seja gabrielense de nascimento, foco principal desse meu trabalho para o jornal “O Fato”, contar sua história encontra validade na amizade que tem com Luiz Eduardo Assis Brasil.

O Secco não estava sabendo dessa matéria sobre a amizade dele com o Claudião. Está tomando conhecimento dela somente agora, quando o jornal chega em sua casa, pois é assinante do “O Fato”, o que nos honra muito. Não quis perguntar a ele como essa amizade começou, pois se fizesse isso estragaria a surpresa. E como não sou amigo do Cláudio no Facebook, também não o procurei, até porque corria o risco dele contar ao Secco.

Mas a essa altura do campeonato isso se tornou uma coisa irrelevante. O que importa mesmo é que essa amizade continua até hoje e cada vez mais forte. Com certeza tudo começou pelo fato de todos serem torcedores do Internacional.

UMA CARREIRA VITORIOSA

Cláudio Roberto Pires Duarte, seu nome completo, é natural de São Jerônimo (RS), onde nasceu em 9 de maio de 1951. Jogava como lateral-direito, e fez parte da grande equipe do Internacional, de Porto Alegre, na década de 70, por quem foi campeão gaúcho por seis vezes e bicampeão brasileiro.

Também foi vitorioso treinador e por algum tempo comentarista esportivo da RBS TV, da TV2 Guaíba e da Rádio Guaíba. E ainda fez aparições esporádicas na Band RS e Rádio Grenal. E foi o primeiro presidente do Sindicato dos Atletas Profissionais do Rio Grande do Sul.

O início da carreira de Cláudio foi nas divisões de base do Internacional, onde chegou em meados de 1968, com apenas 16 anos de idade. Com 1m84 de altura, dono de boa técnica e muita dedicação dentro de campo, logo se destacou e foi guindado ao time profissional, pelas mãos do técnico Daltro Menezes. O primeiro título alcançou nos Juniores do “Colorado”, o “Gauchão” da categoria, jogando como meio campista.

O titular da posição era Édson Madureira. Mas não demorou para que Cláudio assumisse seu lugar no time. Na época, o grupo montado por Daltro iniciou um período de domínio no futebol gaúcho, ganhando de forma consecutiva os estaduais de 1969 até 1976. A imprensa da época considerava Cláudio um “cintura dura”, devido a sua lentidão. Mas com muito trabalho e dedicação superou o período de criticas, tornando-se um dos mais respeitados laterais direitos de toda a história do clube.

Quando Dino Sani chegou para treinar o Internacional, Cláudio ganhou representatividade e confiança. Depois, com Rubens Minelli foi efetivado como titular durante a campanha vencedora no estadual de 1974. Com o bicampeonato brasileiro de 1975/1976, seu nome foi cotado para o mundial da Argentina em 1978. Porém, problemas de repetidas lesões o impossibilitaram de chegar ao onze “Canarinho”, na época treinado por Cláudio Coutinho, meu conterrâneo de Dom Pedrito.

Como jogador atuou só no Internacional. Como treinador dirigiu as equipes do Internacional, Santa Cruz, de Recife, Bahia, Colorado, do Paraná, Pinheiros, do Paraná, Guarani, de Campinas, São Bento (SP), Juventus (SP), Avaí, Corinthians Paulista, Grêmio, Criciúma, Fluminense, do Rio de Janeiro, Paraná Clube, Coritiba, Juventude, de Caxias do Sul, Gama, do Distrito Federal, Ceará e Brasil, de Pelotas, alguns desses, por mais de uma vez.

Cláudio Duarte foi o lateral-direito da equipe que ganhou o bicampeonato brasileiro. Em 1985, sofreu uma lesão e Valdir Nascimento, que era seu reserva, assumiu a titularidade e não deixou mais a equipe na reta final do Brasileirão. Valdir faleceu no dia 10 de junho deste ano, aos 67 anos, vítima de infarto.

Daquele time também já nos deixaram Vacaria e Caçapava. Em 1986, o time que derrotou o Corinthians no jogo final era este: Manga – Cláudio – Figueroa - Marinho Peres e Vacaria. Caçapava - Falcão e Batista. Valdomiro - Dario e Lula. Técnico: Rubens Minelli.

Uma série de lesões no joelho, iniciadas durante o “Brasileirão” de 1986, e quando se encontrava no auge da forma física e técnica constituíram o início de seu final de carreira. Ao término do ano de 1977, após duas cirurgias no joelho, o departamento médico do Internacional anunciou que ele dificilmente teria possibilidade de prosseguir no futebol. Em março de 1978, Claudio ainda tentava voltar aos gramados, trabalhando firme. E paralelamente, ocupava o posto de auxiliar do técnico Carlos Gainete.

A CARREIRA DE TREINADOR

Com a demissão do treinador, Cláudio assumiu interinamente a direção do plantel, enquanto a Diretoria buscava um novo nome. E deu certo, permanecendo no cargo. E não era de brincadeira, prova disso que foi logo avisando aos seus comandados: “Não vamos ganhar nada de ninguém com uma equipe de “bonecas”. Por isso, vou logo avisando, quem não chegar junto e deixar de cumprir minhas determinações vai sair do time, seja quem for e tenha o nome que tiver”.

Com apenas 26 anos ficou quatro meses no cargo, sendo o treinador mais jovem na história do clube. Foi campeão gaúcho em 1978. E no ano seguinte, quando o Internacional se sagrou tricampeão brasileiro invicto, ele era o supervisor técnico de Ênio Andrade.

Títulos conquistados: Como jogador. Pelo Internacional: Campeão Gaúcho (1971, 1972, 1973, 1974, 1975 e 1976); Campeão Brasileiro (1975 e 1976); Como treinador. Internacional: Campeão Gaúcho (1978, 1981, 1991 e 1994); Grêmio: Campeão Gaúcho (1989) e Copa do Brasil (1989) e Gama: Campeão Brasilense (2001).

No início de 2009 ele foi convidado para treinar o Brasil, de Pelotas, no Campeonato Gaúcho, em substituição a Armando Dessessards que, à época, se recuperava do acidente de ônibus que provocou a morte de três pessoas da delegação do time pelotense, em uma estrada do Rio Grande do Sul, na altura de Canguçu. Cláudio, num ato de grandeza e solidariedade, nada cobrou pelo seu trabalho.

Mas voltando a falar da amizade de Cláudio com os Assis Brasil, recentemente ele ganhou do “Secco” alguns “pomelos” uruguaios, uma fruta cítrica também chamada de laranja-natal. Com ela se faz um doce maravilhoso.

Sei disso, pois quando eu morava em São Gabriel tinha uma senhora perto da minha casa, que guardava um pé dessa fruta no seu quintal. E seguidamente me presenteava com alguns frutos, com os quais eu fazia doces deliciosos.

O Cláudio, pelo que sei é um excelente cozinheiro, enveredando por receitas salgadas e doces. E já teve a oportunidade de mostrar seus dotes culinários, quando de visitas a Chácara Juca Tigre ou a Estância Tejupá. E recentemente nos surpreendeu, ao mostrar no programa da Rádio Gaúcha, de Porto Alegre, “Confraria do Pedro Ernesto”, que é também um bom cantor, dono de bonita voz.

Muitas vezes o Cláudio manda para o Secco, algumas receitas que parecem inacreditáveis de serem feitas. É o caso do “Frango na latinha da cerveja”, que Secco sugeriu que enviasse “para um hospício ou penitenciária, que os loucos e os presos iriam mata-lo“. E o Cláudio não se limita a recomendar somente receitas. Envereda por outros caminhos, como mandando a planta de uma mesa rotativa para varanda, sugerindo que o amigo comum, Bojo Bérgamo tentasse construí-la.

E Secco arrisca dizer que até Deus duvida que o Bojo seja capaz de fazer uma igualzinha, tal a sua complexidade. Receitas e invenções a parte, o que importa é que essa amizade é sincera e verdadeira. Mas ainda tenho vontade de saber como tudo isso começou. Tenham certeza, um dia vou saber. (Texto e pesquisa: Nilo Dias - Publicdo no jornal "O Fato", de São Gabriel-RS, na edição de 8 de novembro de 2017)


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