sábado, 14 de outubro de 2017

O Natal nunca mais será o mesmo!

O Natal nunca mais será o mesmo!
O jornal “O Fato” ultimamente vem se caracterizando por uma política inovadora na imprensa da cidade, ao dar ênfase a matérias de cunho cultural, ao lado de informações gerais. E eu me sinto feliz e realizado por fazer parte da equipe de colaboradores do jornal.

A Ana Rita conta que conversou com a dona Nilza, esposa do advogado e amigo Nelson Lopes, e esta deu uma definição para o nosso trabalho, que considero exata e providencial: “O jornal mudou o conceito na cidade do que é informação e história. Parabenizo o Nilo Dias e o doutor Gerson”. De minha parte agradeço.

E a Ana complementou: “Pessoas mais antigas, como nós, gostam de ler o que interessa culturalmente”.

Faço propositalmente essas considerações e acrescento: O jornal tem publicado muitas matérias a respeito de acontecimentos históricos registrados no solo sagrado de São Gabriel. E também tem se preocupado em resgatar as memórias de vultos que se consagraram no tempo, em importantes serviços prestados a cidade.

E assim tem sido. Tenho procurado atender, como posso, solicitações de leitores que sugerem matérias sobre determinados temas e pessoas. Agora mesmo, fui solicitado pelo amigo Márcio Ferreira, o “Fefê”, da Ana Rita, a escrever sobre alguém que nos deixou recentemente e que vai fazer muita falta.

E não se trata de nenhum vulto histórico, participante de revoluções ou coisas afins. Sim, um cidadão comum, um homem do povo, alguém que procurou sempre servir a sua coletividade. Por isso Mário Fialho é merecedor de todo o nosso respeito e consideração. E também colocou seu nome na história da cidade.

O ADEUS A UM GRANDE HOMEM

Mesmo com todos os avanços tecnológicos, nem sempre fico sabendo rapidamente de coisas que acontecem em São Gabriel. Foi o que aconteceu agora, com o falecimento desse amigo de muitos anos, Mário Nadir Bicca Fialho, aos 69 anos de idade.

O óbito se deu num dia em que a alegria deveria ser a tônica, 20 de setembro, data em que os gaúchos, especialmente os gabrielenses, comemoram a data máxima do Estado. Mário lutava contra um câncer há vários meses.

Ele era gabrielense de berço, tendo nascido em 14 de março de 1948. Estava doente e debilitado há cerca de quatro anos. Mas só á um ano atrás descobriu o terrível mal.

Eu o conheci muito bem, como também a sua família. Era filho de dona Vilsa Bicca Fialho, mais conhecida por Dona Maria. Ela era uma torcedora ardorosa da antiga S.E.R. São Gabriel. Não perdia um só jogo e acompanhava o time em suas andanças por cidades do Rio Grande do Sul.

Em dias de jogo no Estádio Municipal Sílvio de Faria Corrêa, era ela que preparava o almoço para os jogadores, em sua própria casa, sempre auxiliada pela filha Maria, também torcedora do clube, garantindo uma boa economia aos cofres da agremiação.

Além da Maria o Mário tinha outra irmã, a Vilma, que lhe deu uma sobrinha, a Alice. A família dele se tornou grande. Pai de Andréia, Eliane e Paulo Alfredo, este grande revelação do futebol gabrielense nos anos 90, jogou ainda no Internacional, de Santa Maria. Deixou a bola muito cedo e foi embora para Rondônia, onde casou e se radicou.

O nosso querido Mário era um avô faceiro, com as netas Eduarda, filha de Andréia, Daiane, Elsa e Marlon, filhos de Eliane. E a alegria só fez aumentar ao nascer os bisnetos Elizabeth e Isaac, presentes da neta Daiane.

Mário participou de diversas Diretorias da S.E.R. São Gabriel, especialmente quando este colunista presidiu o clube das três cores. Foi dirigente destacado do Esporte Clube Independente, o rubro-negro amador da cidade.

E ainda fundou e dirigiu o Bloco Carnavalesco Mocidade Independente, que brilhou em muitos Carnavais da cidade. Mário participou dos festejos de “Momo” até a sua esposa Elizabeth falecer, cerca de 15 anos atrás.

Esse fato causou enorme tristeza ao nosso amigo, que tinha nela o grande amor de sua vida, fonte inspiradora para tudo o que fazia em prol da comunidade que tanto gostava.

Participou ativamente da Banda Musical São Gabriel. E administrou o Estádio Municipal, no tempo em que o prefeito era o doutor Eglon Meyer Corrêa. Estava aposentado. Seu último trabalho foi na Loja Cauzzo.

E em todos os natais alegrava a criançada, como Papai Noel. Em 2016, mesmo doente, fez sua última aparição nas ruas da cidade, como o bom velhinho, entregando presentes a criançada.

GABRIELENSE HEMÉRITO

A Câmara Municipal, em 2015, com muita justiça, deu-lhe o título de “Gabrielense Emérito“, por indicação do vereador Sildo Cabreira (PDT).

O vereador Márllon Maciel (PP), também se manifestou a respeito do falecimento de Mário Fialho: “Foi com tristeza que recebi a notícia da morte do Mário, o tradicional e amado Papai Noel de nossa cidade.

O Mário era meu amigo de muito tempo. Deixava a barba crescer a partir de março para poder encarnar o seu célebre personagem em dezembro e alegrar milhares de gabrielenses. Lamento muito, disse!”

Destaco um depoimento feito pelo amigo Giancarlo Bina, em sua página no Facebook:

Querido amigo! Gosto de escrever, mas te confesso que, sinceramente, tive dificuldade desta vez. Tua partida, embora esperada, será sempre motivo de reflexão. Há anos vinhas sofrendo e desejando estar ao lado novamente do “teu bem”, que partiu bem antes e a quem endereçava cada lágrima ao entoar a frase “a gente se emociona”.

Imagino, hoje, tua felicidade ao reencontra-la, pois tamanho amor tem esse merecimento. Aqui em nosso plano fica o carinho, a saudade e, sobretudo, o respeito ao exemplo que deste de solidariedade.

Nosso ”Natal Solidário” da Banda Improviso, não será o mesmo sem ti. Mas seguiremos acreditando no bem, pois o sorriso que fizeste brotar no rosto de cada criança, em cada Natal, é o mesmo que observo no céu com tua chegada. Descanse em paz!

Também a amiga Regiane Marques, escreveu um bonito depoimento, que tomo a liberdade de transcrever:

“Mário José, era assim que eu o chamava e ele adorava. Então "bicho", hoje tu deve estar impressionando os anjos e "o meu paixão", assim que ele se referia a sua amada a cada suspiro de saudade.

Suas lágrimas corriam ao falar do amor da sua vida. E ele transformou este amor pra as crianças, o que o ajudou a se manter neste plano, mas sempre a espera do esperado reencontro.

Nós, que convivemos com ele diariamente sabíamos a pessoa do coração imenso que era. Compartilhamos muitos cafés, almoços, risadas, choros, e suas histórias, suas brincadeiras. Noves fora, sua matemática exata.

Natal solidário, inclusive no último ele não pode ir conosco, mas me fez uma visita na clínica enquanto organizávamos a separação dos brinquedos. E após a entrega eu fui até sua casa contar para ele, como havia sido e brindamos com um geladinho.

Mário José, tu ganhaste a minha admiração pelo trabalho que fizeste, sempre voluntário, sem jamais ganhar um tostão. Considerava uma ofensa quando lhe ofereciam pagamento.

Fazia tudo isso simplesmente para ver o sorriso de uma criança, ao ganhar seu presente de Natal entregue pelo bom velhinho. Mário tinha barba natural e alisada por uma chapinha. “Bicho” descansa em paz, tu merece os anjos...”

O NATAL COM MÁRIO NO CÉU

Emotiva, a Ana Rita, diretora do jornal definiu com sabedoria e simplicidade, a falta que Mário vai fazer: “Nunca mais o Papai Noel do caminhão da Jupob será o mesmo. Este vai ser o primeiro Natal com o Mário no céu. Parece mentira. Mas ele deixou tantas marcas na cidade, na coletividade e em nossos corações. E, a gente aqui sabia da doença. Mas parecia que o Papai Noel era imortal.”

Quem ficou muito sentida com a morte de Mário foi a dona Ana Maria, mãe de Ana Rita e esposa do grande radialista e advogado, doutor Dagoberto Focaccia.

Ela, como presidente da Liga Feminina de Combate ao Câncer, junto de suas companheiras de Diretoria, ajudou muito o nosso eterno “Papai Noel”, na sua luta contra a terrível doença.

Quem não lembra do caminhão da Jupob com o alto falante bem alto com músicas natalinas e o Mário, batendo um sininho nas mãos e jogando balas para a criançada? Puro espírito de Natal. Destaque para a canção “Então é Natal”, interpretada por Simone:

Então é Natal, e o que você fez?/O ano termina, e nasce outra vez/Então é Natal, a festa Cristã/Do velho e do novo, do amor como um todo/Então bom Natal, e um ano novo também/
Que seja feliz quem souber o que é o bem.

Então é Natal, pro enfermo e pro são/Pro rico e pro pobre, num só coração/Então bom Natal,/pro branco e pro negro/Amarelo e vermelho, pra paz afinal/Então bom Natal, e um ano novo também/Que seja feliz quem, souber o que é o bem.

Então é Natal, o que a gente fez?/O ano termina, e começa outra vez/Então é Natal, a festa Cristã/Do velho e do novo, o amor como um todo/Então bom Natal, e um ano novo também/Que seja feliz quem, souber o que é o bem.

Harehama, há quem ama Harehama, há/Então é Natal, e o que você fez?/O ano termina, e nasce outra vez/Hiroshima, Nagasaki, Mururoa, ha.../É Natal, é Natal, é Natal/Bahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh

E também ecoava pela cidade

(Boas Festas, de Assis Valente). Anoiteceu, o sino gemeu/E a gente ficou feliz a rezar/Papai Noel, vê se você tem/A felicidade pra você me dar/Eu pensei que todo mundo/Fosse filho de Papai Noel/E assim felicidade/Eu pensei que fosse uma/Brincadeira de papel/Já faz tempo que eu pedi/Mas o meu Papai Noel não vem/Com certeza já morreu/Ou então felicidade/É brinquedo que não tem.

UM DEPOIMENTO EMOCIONANTE

Deixo para o final o depoimento de sua neta Eduarda, que mostra o quanto doeu para a família, a partida do bom velhinho Mário.

“Posso dizer aqui diante todos vocês e com toda franqueza, que um pedaço de mim morreu. Morreu com a partida do meu avô. O homem que eu amava e que com toda certeza me amava também, incondicionalmente.

Por mais que a gente esperava que isso acabaria acontecendo, por todo o sofrimento que ele vinha passando, ainda é difícil de acreditar. Nada na vida acontece por acaso, podem ter certeza.

Pois é vô eu te amo muito. Homem forte, valente, como poucos, que não existem mais. Generoso com todos. Foi com ele que aprendi a confiar mais nas pessoas e continuar confiando mesmo quando me decepcionasse, a batalhar pelos meus objetivos e mesmo estando diante dos obstáculos da vida, lutar e não desistir nunca.

Creio que este era seu lema, pois lutou até o fim e no momento em que Deus lhe chamou, apenas abriu os olhos, olhou ao seu redor e partiu!

Jamais esquecerei dos nossos momentos juntos na minha infância (quando eu ia te visitar ou vice verso). Jamais vou esquecer do último dia que te vi vivo, já doente, mas mesmo assim se fazendo de forte, sem reclamar, lutando e dizendo que tudo ia ficar bem.

Jamais vou esquecer do seu último abraço, do último "Eu te Amo".

Eterno Papai Noel!!! (Texto: Nilo Dias - Matéria publicada no jornal "O Fato", de São Gabriel-RS, edição de 10 de outubro de 2017)

Mário Fialho deiava a barba crescer, meses antes do Natal. *(Foto: Eduarda Borges)

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