segunda-feira, 3 de julho de 2017

Irmão Aurélio Ortigara, um educador exemplar

Faleceu recentemente, dia 10 de março deste ano, em Porto Alegre, vítima de parada cardíaca, o irmão Aurélio Ortigara, na avançada idade de 98 anos, 80 deles dedicados à vida religiosa. Era natural de Antônio Prado (RS), onde nasceu no distante dia 19 de maio de 1918.

Um dia após o seu nascimento, foi batizado em ato religioso realizado na Paróquia de São Pedro e São Paulo, no distrito de Nova Roma, pelo padre José Bem. Foi registrado no município de Antônio Prado, no dia 26 de junho de 1918.

Era filho de Albano Ortigara, natural de Caxias do Sul e de Josephina Guetini, nascida em Vercelli (Itália). Teve 12 irmãos de sangue e mais dois de criação. Aos 15 anos ingressou na Congregação dos Irmãos Maristas em Antônio Prado, e ficou na Escola do Sagrado Coração de Jesus por um ano.

Nos anos de 1934 e 1935 estudou e fez estágio onde fica hoje a cidade de Bom Princípio. Em 1936 foi para o Colégio Champagnat, em Porto Alegre, onde estudou e fez o Serviço Militar.
Completou um período de experiência em 1937, quando mudou seu nome para irmão Brício Marcos. E demorou 25 anos para voltar ao nome de batismo. Em 1938 fez um ano de aprendizado com estudos especiais no Colégio Champagnat.

O INÍCIO COMO PROFESSOR

A sua vida de professor teve inicio em 1939, no Colégio Santo Antônio, de Garibaldi. Depois, em 1940 e 1941 esteve no Colégio Santa Maria, em Santa Maria. Só a título de curiosidade, eu, Nilo Dias, fui aluno desse educandário. Claro que não foi no período do irmão Ortigara.

Como eu era um menino muito arteiro, meu pai me internou no Colégio Santa Maria. Estive lá durante quatro anos, não era muito chegado a estudar, mas ainda assim passei de ano sempre. O que eu gostava mais era de jogar futebol.

Em sua trajetória, o irmão Ortigara era reconhecido por ter punho firme com os alunos e exigir muita disciplina – característica que lhe rendeu o apelido de “Tremendão”.

O irmão fez o curso do “Artigo 100”, uma espécie de ensino de segundo grau, o que lhe deu o direito de receber da Secretaria de Educação do Estado, o registro de professor do Curso Primário.

Em 1942 e 1943 trabalhou no Colégio Nossa Senhora do Rosário, em Porto Alegre. Em janeiro de 1943 fez os votos perpétuos, nome que a Igreja dá aos que abdicam de suas vidas familiares e profissionais, para se dedicarem aos institutos da vida religiosa.

Uma de suas mais admiráveis missões teve lugar em Florianópolis, nos anos de 1944 e 1945, quando trabalhou no Educandário Abrigo de Menores, que cuidava de jovens delinquentes, criminosos e abandonados.

Em 1946 conheceu dias menos agitados, já que foi transferido para o Colégio Frei Rogério, em Joaçaba ( SC). E no ano seguinte foi lecionar no Colégio São Tiago, de Farroupilha. Em 1948 até 1957 esteve de volta ao Abrigo de Menores de Florianópolis.

Aproveitou esses anos para fazer exames de Suficiência, perante bancas de professores vindos de São Paulo e do Rio de Janeiro, para obter registro definitivo de professor em várias disciplinas. Nos anos de 1958 a 1964 esteve lecionando no Colégio Cristo Rei, na cidade de Getúlio Vargas.

Não satisfeito e procurando sempre ampliar seus conhecimentos, o irmão Ortigara fez o segundo Noviciado, em 1959, em Campinas (SP), ampliando experiências.

A SUA ESTADA EM SÃO GABRIEL

E de 1965 a 1976 nossa cidade teve a honra e a alegria de receber o religioso, que por aqui foi tesoureiro, vice-diretor e diretor do Ginásio São Gabriel. Também exerceu a função de Superior das Comunidades dos Irmãos Maristas. Em 1973 concluiu a Faculdade de Estudos Sociais (FIC), e obteve o primeiro lugar da turma.

Era um apaixonado pelo conhecimento. Por isso ingressou na Escola Superior de Guerra (Adesg), em 1974, quando foi diplomado. No ano de 1975 esteve em Roma, na Itália, para fazer o Curso de formação da terceira idade.

Em 1979 fez curso de aperfeiçoamento (Cemar) na cidade de Teresópolis (RJ). Sua longa carreira de religioso e professor teve continuidade em 1977, quando foi transferido para o Colégio Santanense, de Santana do Livramento, onde ficou até 1985.

Entre os anos de 1986 a 2003 voltou a exercer atividades no Ginásio São Gabriel, perfazendo 30 anos em nossa cidade. Em 4 de abril de 1997 recebeu o título de “Cidadão Gabrielense”, por proposição do então vereador Caio Rocha e aprovado pela unanimidade dos componentes de Câmara de Vereadores.

Em 2004 foi transferido para o Colégio Marista Maria Imaculada, em Canela, onde assumiu o cargo de ecônomo da comunidade dos irmãos daquela cidade.

UMA MERECIDA HOMENAGEM

No dia 25 de maio de 2008, o irmão Aurélio foi homenageado por irmãos, parentes e amigos em uma Missa celebrada na Paróquia Santo Antônio do Pão dos Pobres, em Porto Alegre. A celebração foi presidida pelo padre Luciano Gouvêa, de São Gabriel, e foi seguida de um almoço no edifício “Tour d’Argent”.

Solidário e amigo de seus colegas religiosos, Ortigara deu sua colaboração para que fosse escrita a biografia “Irmão Taciano: um Marista feliz e solidário”. Tratava-se de alguém simples e humilde a serviço do povo, uma alma de menino, sempre correndo, brincando, sorrindo.

As palavras, cuidadosamente escolhidas pela Fraternidade que leva seu nome, foram usadas para descrever o irmão Taciano Pedro. A biografia do religioso, narra, por meio de relatos, imagens e documentos, a sua trajetória, entre 1909 e 2006.

Ele viveu grande parte de seu apostolado em bairros da cidade de Getúlio Vargas. Foi nessa região que ele ajudou a catequisar crianças, auxiliou as famílias com seus conselhos e promoveu procissões, fortalecendo o espírito de família.

Também teve papel fundamental na construção do Centro Catequético Marcelino Champagnat, do Centro Comunitário São José e da capela do bairro Champagnat, naquela cidade
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PROJETO PRESERVA HISTÓRIA DO RELIGIOSO

A figura do irmão Aurélio Ortigara não será nunca esquecida. Sua vida e sua história estão guardadas para sempre no projeto “Memórias Maristas – Histórias de amor e vida”.

O projeto visa resgatar e valorizar a história de vida de Irmãos que ajudaram a construir a Rede Marista. E nele está a gravação em que o irmão conta detalhes da sua vida.

É, também, uma maneira de prestar uma homenagem àqueles que ajudam a manter vivo o sonho do fundador do Instituto Marista, São Marcelino Champagnat. Várias pessoas de São Gabriel, que conheceram o irmão Aurélio Ortigara, falaram a seu respeito.

Foi professor, entre muitos outros, de Carlos Pufal Machado, que disse ter sido ele o maior dos mestres, disciplinador e amigo dos alunos.

Já Ronaldo Machado da Fontoura enfatizou em sua homenagem ao professor, que ele foi capaz de mostrar que a “Matemática” vai muito além das quatro operações, abrindo janelas que só se ampliam com o passar dos anos.

Calina Correa lembra dele como um amigo dos seus filhos. Pessoa ímpar, como mestre e, principalmente, como ser humano, com uma vida dedicada a servir.

O advogado doutor Augusto Solano Lopes Costa, foi aluno do irmão Aurélio nos anos 70, no Ginásio São Gabriel, quando ele era diretor do estabelecimento de ensino. Garante que com sua partida, deixou uma grande lacuna, pois se tratava de um professor da vida e da religiosidade.

Fabíola Fernandez, advogada e corretora de imóveis, hoje morando em Porto Alegre, também foi aluna do irmão Ortigara. Salienta que se tratava de alguém inesquecível, um homem de valores morais e intelectual.

Para Victor Pires tratava-se de uma pessoa ímpar. Foi aluno dele durante anos no Ginásio São Gabriel. Testemunhou que dedicou a vida toda à educação. E nada mais justo que agora descanse em paz, junto Daquele a quem prometeu servir.

Outro que foi seu aluno em São Gabriel, na década de 70, Jorge Ubirajara Weber dos Santos lembra que se tratava de um professor, austero, quando tinha que ser, e amigo sempre. É agradecido até hoje a geração de irmãos Maristas que moldaram a sua vida, nos tempos de estudante.

Bonito depoimento de alguém que se identificou apenas como Raul, publicado na Internet: “Ah saudade do irmão Aurélio. Grande professor de Geografia no Ginásio São Gabriel.

Fui aluno dele e posso afirmar que foi um dos melhores professores que tive na minha educação. Grande sábio. Ele fazia tanto prova oral como texto. Provas difíceis. Súper exigente. Grande professor.

Oh saudade da escola Ginásio São Gabriel. Tinha o diretor Víctor Rosseto, irmão Ivo, Delfino. Saudades desse tempo. Parabéns. Na época que ele residia na casa dos irmãos Maristas ao lado da escola Ginásio São Gabriel, era quem dirigia uma Kombi, na qual levava os irmãos para assistirem Missas. Era, ainda, dono de um cão de nome “Pajé”, que andava sempre com ele”.

Também na Internet encontrei outra homenagem ao querido irmão. É de Flávio Borguetti, que diz: “Lembrei do querido mestre irmão Aurélio Ortigara, que chamávamos de irmão Brício. Boas lembranças vieram à memória, ano de 1964, Colégio Cristo Rei em Getúlio Vargas.

De todos os professores que tive em minha vida escolar, irmão Aurélio Ortigara foi o mais querido, dedicado, amigo. Que Deus lhe dê um bonito lugar no céu. Saudade, com o carinho de um ex-aluno”.


Laucimir Azambuja da Silva, disse em seu depoimento, que quando o irmão Ortigara nos deixou, foi um dia triste.

Ele foi seu professor no Ginásio São Gabriel. E garante que foi uma época boa, em que se aprendia de verdade. (Pesquisa: Nilo Dias – Publicada no jornal “O Fato”, de São Gabriel-RS, edição de sexta-feira, 30 de junho de 2017)

O irmão Aurélio gostava muito de crianças.

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